Recentemente, um vídeo contendo uma declaração do cantor 50 Cent acerca da depressão voltou a ganhar ampla repercussão nas redes sociais. A fala, marcada por extrema infelicidade, foi feita em 2023 durante sua participação em um podcast:
50 Cent (Getty Images)
"Eu acho que a depressão é um luxo. Porque de onde eu venho, você não pode se dar ao luxo de estar deprimido. Você tem que pagar as contas, certo? Então você tem que trabalhar. Você tem que se levantar. Tem que fazer o que precisa ser feito."
Essa fala cheia de preconceitos e ignorância sobre a realidade das pessoas com o transtorno não reflete somente a visão do cantor sobre o assunto, mas, também, de boa parte da sociedade. A palavra "luxúria", utilizada por ele, pode ser facilmente substituída por "frescura" no contexto brasileiro, onde muitas pessoas ainda consideram a depressão como algo trivial ou fruto de capricho. Quem não conhece alguém que já falou algo semelhante? Ou mesmo casos em que a gravidade da doença foi ignorada devido a essa crença equivocada resultando em tragédias como o suicídio? E, comumente, o arrependimento póstumo de quem criticou, todavia, tarde demais, já que a morte é algo irreversível. Contudo, nem todos demonstram remorso; é comum encontrar pessoas que não sentem qualquer empatia por quem sofre de depressão, e até desprezam aqueles que chegam ao extremo de tirar a própria vida. Essas críticas insensíveis e mal fundamentadas são tão absurdas quanto a declaração de 50 Cent.
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Imagine uma situação, que passa longe de ser hipotética, pois há casos registrados, onde uma criança sofre agressões constantes, estupros, é pobre, acaba sofrendo bullying por conta de sua situação, se isola em uma depressão profunda e acaba por tirar sua própria vida. É essa a realidade englobada na fala do cantor e de muitas outras pessoas. Essa é a frescura, ou luxo que muita gente se dá, usando a lógica distorcida dos mesmos.
O Rapper, também argumenta que, em sua comunidade de origem, as pessoas são pobres e não têm "tempo" para a depressão, pois precisam sobreviver. No entanto, essa visão simplista desconsidera que a depressão não é uma condição que incapacita todas as pessoas de suas atividades diárias. Existem diferentes níveis de gravidade na doença. Nem todos que sofrem com depressão são suicidas ou incapazes de trabalhar. Muitos, mesmo em condições de pobreza, convivem com a doença sem diagnóstico, tratamento ou apoio, muitas vezes ao longo de toda a vida.
Quando vemos listas de países com altos índice de suicídios, os países mais pobres ocupam, geralmente, a maior parte da lista. Mesmo em nações desenvolvidas, questões econômicas frequentemente lideram entre as causas que levam ao suicídio. E, veja, estamos falando de suicídio, que é um fator associado a uma pequena parcela de pessoas que possuem depressão. Se formos olhar somente a patologia psicológica em si, a situação, é, certamente, muito maior e mais grave. Pobreza e problemas sociais são um dos principais motivos de causa da doença. A alegação do Rapper é refutada no cotidino comum, mas também em estudos e dados estatísticos em todo o mundo.
Ao invés de enxergar a depressão como algo que alguém "escolhe" ter, precisamos entender que ela é uma condição séria, complexa, multifatorial, causada por desequilíbrios químicos no cérebro, traumas e outros fatores externos. Conversas responsáveis e baseadas em fatos são essenciais para avançarmos em direção a uma sociedade mais empática e bem informada.
"Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio; e o que cerra os lábios é tido por entendido." (Provérbios 17:28)
"Às vezes é melhor ficar calado deixando que os outros pensem que você é um idiota, do que abrir a boca e não deixar nenhuma dúvida."
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